sábado, 15 de novembro de 2014

Sr. Anjo.

 death-and-taxes
Sr. Anjo estava sentado ao meu lado no banco do parque. Ele é o meu melhor amigo. Apontei para um velho homem que sentava perto de mim. “O que ele está fazendo, Sr. Anjo?” Havia um cigarro apagado no canto da boca do homem. Seus olhos pareciam murchos pela idade, e ele olhava fixamente para nada. Sr. Anjo se inclinou para mim enquanto sussurrava em meu ouvido. “Ele está se lembrando da mulher que perdeu há muito tempo.” Ele balbuciou. Suas palavras se sentiam quentes contra a minha bochecha. Eu sorri para ele. Eu gostava de seus segredos; Sr. Anjo sabia de tudo. “Isso é realmente triste, Sr. Anjo,” eu disse. “Por que você não o ajuda?”

Eu não podia ver, já que ele não tinha boca, mas sabia que ele estava sorrindo. Ele se levantou e caminhou em silêncio até o homem e pressionou um único dedo ossudo no centro de seu peito, até que ele se vira e se senta novamente ao meu lado. Eu puxava a velha mortalha negra que ele sempre usava contra mim. “O que você fez, Sr. Anjo?” Eu perguntei. Eu podia ouvir o Sr. Anjo suspirando cansado enquanto ele se inclinava contra a foice que ele carregava. “Eu o mandei de volta para a sua mulher”, sua voz ecoou. “Eu a levei há muito tempo atrás e ele estava ficando muito sozinho.”

Olhei para o velho. Ele estava debruçado sobre suas pernas enquanto segurava dolorosamente o seu peito. Seu rosto parecia fechado e abatido, e eu podia ouvi-lo bufar enquanto lutava para respirar. “Sr. Anjo! O que você fez!?” Eu gritei: “Isso não está o ajudando!”. Mas o Sr. Anjo apenas se sentou em silêncio enquanto observava o homem sofrer. Eu tentava então bater pateticamente em seus ombros com meus pulsos fechados, mas tudo que eu encontrava era um ar vazio e frio. Uma lágrima começou a rastejar pela minha bochecha. “Sr. Anjo!” Eu gritei. “Sr. Anjo! Volte!”

As lágrimas escorriam para debaixo do meu olho. Enterrei minha cabeça no colo e chorei. Eu me virei e olhei para o corpo do velho. Ele estava rígido até aquele momento, mas seu rosto não parecia mais tão fechado e abatido. Ele também não estava mais agarrando o seu peito; ele estava agora apenas deitado de costas, com as mãos colocadas ordenadamente contra o seu coração. Seu rosto parecia aliviado, calmo. Contente. Eu me levantei do banco do parque. Achava que a qualquer momento o velho cadáver iria pular e rir da minha cara. Eu queria que isso fosse algum tipo de piada horrível.

Eu queria que alguém estivesse rindo, mas tudo o que eu podia ouvir era a paz que se seguia depois que alguém falece. Eu pairei sobre o corpo enquanto uma gota de minhas lágrimas pousava em sua pele. Eu não sabia o que fazer. “Por favor…” Eu implorei, “Levante-se!” “Por favor! Levante-se!” Eu balancei seu ombro. Nada. “Levanta-te!” Eu descansei minha mão ao lado das do homem. Nada. Nem mesmo um batimento cardíaco. “Ele está onde deveria estar agora”, ouvi uma velha voz ecoar ao meu lado. “Ele está feliz”. Suas palavras assobiavam contra a minha pele. Olhei para trás. Sr. Anjo estava assistindo do banco do parque. “Você o matou!” Eu gritei. Minha respiração ficara difícil. Eu não conseguia mais sentir as minhas pernas.

Sr. Anjo levantou-se do banco e caminhou até mim. Ele se ajoelhou e eu podia sentir sua presença mórbida sobre mim em um abraço caloroso. Olhei para cima e o rosto feliz de Sr. Anjo me fitava. Ele agarrou sua foice com uma mão e a outra mão ele pôs em meu ombro. Eu não podia vê-lo, mas tinha certeza que ele estava sorrindo. “Morte”, eu disse a ele. Minha voz ainda estava rouca enquanto eu engolia algumas lágrimas. “Você realmente o ajudou?” A Morte olhou para mim e se aproximou. “Minha doce pequena”, ele sussurrou baixinho. “A morte pode ser muitas coisas. A morte pode ser difícil. A morte pode ser dolorosa. E a morte um dia vai estar em seus calcanhares. Mas nunca se esqueça, a melhor coisa a se fazer quando a morte te cumprimenta… é abraçá-la como uma amiga.” Ele me puxou para mais perto. Eu podia sentir seu manto negro lentamente se envolver em torno de mim. De alguma forma, eu me sentia confortável e acolhida. Era bom estar perto da morte. “Agora, não me chame de morte. Eu sou um anjo, lembra?” Eu ri para ele e enxuguei uma lágrima. “Porque você leva as pessoas para o céu, não é?” Ele acenou em confirmação.

“Sr. Anjo” eu disse a ele: “Você é meu melhor amigo, não é?” Minha respiração parou. Seu sorriso se foi e seu manto frio acariciava minha pele. “Sim”, a morte murmurou, “Eu sou o seu melhor amigo.”



Fonte: Casa-Creepypasta.

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