terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Deixe Ela Sair.

Enquanto eu caminhava nervosamente pelas escadas, a manga da minha camiseta passou pelas barras enferrujadas de sua prisão, e, para o meu horror absoluto, ela acordou. Sua voz frágil ressoou a partir do canto estagnado - a antiga e fétida prisão que mantive intocada por mais de uma década, e nos mantinha a salvo do ódio inimaginável que habitava lá dentro. Assim que as suas palavras começaram a se formar entre terríveis chiados, um suor frio rastejou através do meu corpo. Eu não deveria ter vindo aqui. Eu deveria ter ficado lá em cima. "Papai, por favor! Deixe-me sair... só por um minuto", sua voz era quase humana. Sufocando as lágrimas, resolvi ignorá-la; aquilo com certeza não era minha filha.

"Não ligue as luzes", disse a mim mesmo, tentando me afastar. Logo, a voz ficou mais alta e a porta começou a chacoalhar, batendo e arranhando, deixando uma marca familiar nas suas parede. "Como você pode fazer isso comigo, papai?" Ela nunca tinha me chamado de "papai", nem mesmo quando estava viva. Acendi um cigarro com as mãos trêmulas e caminhei, aproximando-me da porta.

Virando a maçaneta da porta do porão, parei por um momento. A sala ficou em total silêncio - e então, ouvi algo que nunca tinha ouvido antes: o som daquela prisão se abrindo.

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