terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Sempre ao seu Lado.

Eu estou sempre com você. Eu estava lá no momento em que você nasceu. Eu estava na sala de parto, olhando para você antes mesmo que você pudesse abrir seus olhos para me ver. Sua família e os médicos não podia me notar ali no canto, observando você, mas eu estava lá e eu o segui até sua casa. Eu sempre estive com você, como um companheiro constante. Você brincava com seus brinquedos sozinho enquanto eu me via de todos os ângulos em um espelho nas proximidades; meu bagunçado cabelo se misturava com o suor oleoso que pendia na minha testa. Acompanhei atrás do carro de sua mãe sua ida à pré-escola. Você pensou que estava sozinho no banheiro, mas eu estava do outro lado da porta, com o vento passando pelo machucado da minha garganta. Meus braços tocavam em suas órbitas enquanto eu me debruçava sobre o outro lado da cortina do chuveiro. Eu te esperava. Eu te seguia.

Eu não posso ser visto. Na verdade sou basicamente como o ar. Você não me viu na manhã em que eu estava sentado diante de você na mesa do café da manhã, enquanto eu abria minha boca grotescamente na sua frente. Às vezes me pergunto se você sabe que estou aqui. Eu acho que você está ciente de alguma forma, mas nunca vai entender o quão perto eu estou. Eu gasto horas do meu dia fazendo nada mais do que respirar - engasgar, na verdade - em seu ouvido. Implorando para estar perto de você, para sempre envolver os meus braços mutilados em torno do seu pescoço. Eu me deito ao seu lado toda noite, com meus olhos turvos olhando para o teto. Sim. Você já me pegou te olhando uma vez. Seus pais vieram correndo para seu quarto uma noite quando você gritou. Você estava ainda aprendendo a falar, então só foi capaz de gritar algumas palavras, "Homem! Homem no meu quarto!".

Você pensou que nunca iria esquecer aquela visão de mim, com meu queixo recolhido e pendurado no meu peito, balançando para trás e para frente. Eu me afundei em seu armário e sua mãe foi incapaz de me ver no local onde seu pequeno dedo apontava. Você se esqueceu também de quando o armário se abriu novamente, e eu me rastejei pelo chão, bamboleando em movimentos involuntários enquanto eu me empurrava para debaixo de sua cama usando meus membros desarticulados. Você logo aprendeu uma palavra nova: bicho-papão. Não sou bem o monstro que você pensava que eu era. Só estava te esperando e te seguindo, acariciando seu rosto enquanto você dormia.

Mas você vai me ver novamente em breve. Qualquer dia, eu estarei voltando, brusco e brutal. Um dia você vai atravessar a estrada, e eu irei te abraçar com um alto grito. Você vai rolar pela calçada, será esmagado por aquelas rodas, perfurado pelo metal e os meus dedos tocarão se rostou outra vez.

Você vai me ver chegando e ninguém mais. Você vai olhar em meus olhos e eu para os seus. Pela primeira vez em minha vida, algo como um sorriso surgirá sobre o meu rosto. Eu vou me inclinar até você depois que os médicos e a multidão aos poucos sumirem como uma lembrança esquecida. Nossos rostos vão se tocar. Minhas asas surgirão. E então você vai ter que me seguir.

E eu sempre estarei com você.

Eu, seu anjo da guarda.

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